Marcel Proust

Marcel Proust

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ANTES DE PROUST, LIA-SE MÁRIO FAUSTINO

22 de outubro, aniversário de Mário Faustino

Nascido em Teresina, no Piauí, a 22 de outubro de 1930 e morto em 1962, em um acidente de avião, que explode no ar, no Pico do Cerro de Las Cruces, nos Andes, a 32 quilômetros do sul de Lima, Mário Faustino ainda guarda sobre si o véu do desconhecido.

Viveu em Belém de 1940 a 1956, ano em que se muda definitivamente para o Rio de Janeiro, onde passa a assinar uma página do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, após a reforma ocorrida nesse periódico. Com sua experiência de jornalista, Mário dedicou-se a um empreendimento literário até então inédito no Brasil: passou quase três anos (de 1956 a 1958) organizando a página inteira dedicada ao conhecimento, à divulgação e à crítica de poesia. Criou, sob o título de Poesia-Experiência, uma espécie de suplemento dentro de outro, cujo lema era “repetir para aprender, criar parar renovar”. Para Mário Faustino, existe uma “cultura da poesia” que emana das obras, tendências, técnicas e temáticas que formam a tradição viva em que o poeta deve inspirar-se para criar algo novo, que una os elementos perduráveis do passado à substância do presente. A sua foi uma das primeiras críticas totalmente voltadas à poesia e a primeira, de caráter instrumental e didático. A página que assinava tinha várias seções: Poeta Novo, divulgando poemas de autores jovens; O Melhor em Português, lembrando poetas clássicos portugueses; É Preciso Conhecer, apresentando poetas modernos traduzidos; Clássicos Vivos, divulgando poetas de todos os tempos e todas as línguas; Subsídios de Crítica ou Textos e Pretextos para Discussão, com trechos de críticos do mundo todo; ensaios em série (Diálogos de Oficina, Fontes e Correntes da Poesia Contemporânea e Evolução da Poesia Brasileira); uma pequena antologia à guisa de exemplo da linguagem poética, sob o título de Pedra de Toque. Os Diálogos de Oficina representam o lado teórico da experiência prática de elaboração de sua obra O Homem e sua Hora. Nesses diálogos, o poeta expõe idéias sobre a função do poeta, a natureza da poesia e as relações entre o poeta e o mundo, entrelaçando, pois, vida, poesia e crítica-teórica e defendendo uma “profissão de fé poética”.

Em vida, Mário Faustino publicou somente um livro: O Homem e sua Hora, composto de vários poemas curtos e de um poema longo que dá título ao livro. Nesse poema – longo diálogo de Mário Faustino com o mundo –, nada se afirma, muito se indaga, tudo é sugerido. O poema participa da “única vaga pelo mundo” de que fala Saint-John Perse, inicia e acaba com reticências, constituindo, por assim dizer, o marco divisório entre os poemas anteriores do mesmo livro – “Esparsos e inéditos” – e os posteriores a essa publicação, aqueles que compõem o que Mário Faustino chama de “obra-em-progresso”, que não foi realizada em definitivo. Obra que foi programada e interrompida, sendo a própria morte o seu último poema, limiar de fim e de início, sucedendo a versos premonitórios de vida e morte.
Lilia Silvestre Chaves