... LIVRO
Um livro não tem autor, mas um número infinito de autores. Pois, àquele que o escreveu acrescenta-se de pleno direito no ato criador o conjunto daqueles que o leram, o lêem ou o lerão. Um livro escrito, mas não lido, não existe plenamente. Não possui senão uma semi-existência. É uma virtualidade, um ser exangue, vazio, infeliz que se esgota em um apelo à ajuda para existir. O escritor o sabe, e quando ele publica um livro ele deixa na multidão anônima dos homens e das mulheres, uma nuvem de pássaros de papel, vampiros secos, sedentos de sangue, que se espalham em busca de leitores. Apenas um livro se abate sobre um leitor, enche-se com seu calor e com seus sonhos. Floresce, desabrocha, torna-se enfim o que ele é: um mundo imaginário foisonnant, em que se misturam indistintamente – como no rosto de uma criança, os traços de seu pai e de sua mãe – as intenções do escritor e os fantasmas do leitor.
M. Picard
Nenhum comentário:
Postar um comentário